50 diretores essenciais (parte 2)

Dando continuidade à lista de 50 realizadores que todo cinéfilo deve conhecer, listo mais 10 nomes de grande relevância. Nem que seja para discordar de seu talento ou criatividade, vale a pena assistir a alguns dos filmes de cada um deles e, assim, entrar em contato com diferentes olhares e recortes do real. Sua opinião na caixa de comentários é muito bem-vinda. Sem mais rodeios, vamos aos eleitos dessa segunda parte. A primeira parte da lista está disponível aqui  

11. François Truffaut (1932-1984)


Não foi por acaso que Truffaut recebeu a alcunha de "cineasta do amor". A maior parte de seus filmes está impregnada do sentimento, retratando indivíduos mergulhados nas confusões e delícias de amar, lidando com dúvidas e cisões. Um dos nomes mais importantes da Nouvelle Vague, não se contentou apenas em redigir críticas para os filmes que via e abraçou o posto de realizador com traquejo notável. Sua obra de estreia no celuloide, Os incompreendidos, é praticamente uma unanimidade entre os amantes do Cinema, e o primeiro exemplar de uma pentalogia estrelada por Antoine Doinel (Jean-Pierre Léaud), seu alter ego declarado. Até para Quentin Tarantino, ele acabou servindo de inspiração.

PRINCIPAIS FILMES: Os incompreendidos (1959), Antoine e Colette (1962), Fahrenheit 451 (1966), Beijos proibidos (1968), A noiva estava de preto (1968), A noite americana (1973).

12. Federico Fellini (1920-1993)


Representante mais lembrado da época áurea do cinema italiano, o saudoso Fellini assinou obras que ora flertavam, ora se embrenhavam de vez no realismo fantástico. Não lhe faltava criatividade para seus enredos e seus roteiros e, mesmo em sua fase menos propícia à invenção, ele encontrou elementos que pudessem render uma das mais importantes produções fílmicas calcada na metalinguagem. Seu cinema, porém, não é somente um espaço de sonho: também há crítica social em seus longas, sobretudo à Igreja Católica, embora ele também a tivesse elogiado. O tédio da burguesia romana também está presente em Fellini, e sua parceria com Marcello Mastroianni é das mais profícuas da Sétima Arte.

PRINCIPAIS FILMES: A doce vida (1960), 8 1/2 (1963), Amarcord (1973), Ensaio de orquestra (1978).

13. Theo Angelopoulos (1935-2012)


Mesmo entre os cinéfilos mais ardorosos, este é um diretor a ser descoberto. Pouco visto e comentado, Angelopoulos faleceu deixando filmes emocionantes e tinha como especialidade planos-sequência grandiosos, difíceis de realizar, mas que ele parecia dominar muito bem. A prolixidade era outra de suas características, resultado em muitas obras que ultrapassam facilmente as duas horas de duração, o que não significa filmes cansativos ou redundantes. Até chegar a diretor, entretanto, passou por várias áreas, da faculdade de Direito em Atenas, não concluída, passando pela crítica cinematográfica, o grego se encontrou atrás das câmeras e legou uma obra que merece ser visitada.

PRINCIPAIS FILMES: A viagem dos comediantes (1975), Paisagem na neblina (1988), O passo suspenso da cegonha (1991), A eternidade e um dia (1998).

14. François Ozon (1967- )


Em termos de frequência de trabalho, François Ozon já foi chamado de Woody Allen francês. Afinal, desde que estreou na direção, ele não passou mais que dois anos sem rodar um filme, e vem construindo uma carreira de muitos mais acertos que enganos. Seu grande interesse é pelos signos e premissas esgarçadas do Cinema, os quais aborda e reanalisa a seu modo, demonstrando identidade e originalidade. Ozon já passou pelo melodrama, pelo musical, pelo suspense e pelo thriller com desenvoltura, ainda que uma boa parte da crítica e do público não se entregue totalmente às suas propostas.

PRINCIPAIS FILMES: 8 mulheres (2002), Swimming pool - À beira da piscina (2003), Amor em cinco tempos (2004), O tempo que resta (2005), O refúgio (2009), Potiche - Esposa troféu (2010), Dentro da casa (2012).

15. Martin Scorsese (1942 - )


A selva urbana emerge como o grande tema da filmografia de Scorsese, que traz consigo uma legião de fãs e entusiastas, que parece crescer a cada dia. Seus protagonistas, normalmente, são homens em rota de colisão consigo mesmos e com o mundo ao redor, que matam um leão por dia e se entregam ao desafio como única maneira de se sentirem vivos. Seu parceiro mais recorrente é Robert De Niro, com quem já rodou filmes emblemáticos e memoráveis, embora já faça um bom tempo que os dois não se encontram. O Oscar lhe foi concedido tardiamente, depois de várias indicações ao longo dos anos. Mais recentemente, deixou de lado a violência e entregou uma doce homenagem ao Cinema, dando uma bela prova de versatilidade e que combina mais com seu visual de vovô simpático.

PRINCIPAIS FILMES: Caminhos perigosos (1973), Taxi driver (1976), Touro indomável (1980), Depois de horas (1985), O aviador (2004), Os infiltrados (2006), A invenção de Hugo Cabret (2011).

16. Darren Aronofsky (1969 - )


Humanos devotados à busca pela perfeição ou por um sonho distante: eis o foco de Aronofsky, um cineasta visto como promissor em sua estreia e que vem atendendo às expectativas ao longo dos anos. Em seus filmes, os protagonistas vão se tornando escravos dos próprios desejos, aprisionando-se em um ciclo de repetições nocivas que os conduzem a poços profundos. Como permanecer indiferente à jornada decadente dos viciados de Réquiem para um sonho ou à psicose crescente da bailarina de Cisne negro? Por meio de um filme seu, Mickey Rourke voltou à tona e entregou uma das melhores atuações masculinas do final da primeira década dos anos 2000.

PRINCIPAIS FILMES: Réquiem para um sonho (2000), O lutador (2009), Cisne negro (2010).

17. Alfred Hitchcock (1899-1980)


Como fazer uma lista de diretores essenciais e deixar Hitchcock de fora? Sinônimo de suspense (e também de sarcasmo), esse inglês sabia muito bem aonde chegar com seus filmes, e amava trabalhar com uma margem de risco, que determinava suas escolhas estéticas e narrativas. No alvorecer da década de 60, ousou ao matar a protagonista de um de seus filmes mais famosos antes da metade da história, na cena que o mundo inteiro conhece e que serve de ilustração do medo. E, mesmo em meio a tramas misteriosas, não deixava de lado o tom jocoso, além de gostar de brincar de esconde-esconde aparecendo furtivamente em vários de seus filmes. Entretanto, é reducionista pensar nele apenas como um ás do gênero: Hitchcock também tinha sensibilidade para dirigir romances.

PRINCIPAIS FILMES: A dama oculta (1938), A sombra de uma dúvida (1943), Interlúdio (1946), Festim diabólico (1938), Janela indiscreta (1954), Um corpo que cai (1958), Psicose (1960).

18. Jim Jarmusch (1953 - )


Talvez a melhor coisa de Ohio seja um de seus ex-habitantes, ali nascido: Jim Jarmusch. Especializado em sujeitos que não se encaixam no status quo e crítico bem-humorado do chamado American way of life, ele não abre mão de histórias simples e carregadas de incidentes da ordem do cotidiano, extraindo graça e poesia da banalidade. Ainda hoje, segue como um dos nomes mais importantes do cinema indie, totalmente despreocupado em alcançar um grande público e fiel à sua gramática pessoal de direção. Amante do preto e branco, chegou a visitar o faroeste e o tingiu de um existencialismo todo peculiar.

PRINCIPAIS FILMES: Estranhos no paraíso (1984), Down by law (1986), Trem mistério (1989), Dead man (1995), Sobre café e cigarros (2003), Flores partidas (2005).

19. David Cronenberg (1943 - )


E lá se vão 70 anos desde que Cronenberg veio ao mundo para inscrever seu nome entre os grandes realizadores, não apenas de seu tempo, mas de vários tempos cinematográficos. Sua dedicação é por tramas que, frequentemente, são atravessadas pelo tétrico e fazem surgir o lado nefasto dos indivíduos, mesmo que, para isso, ele tenha de acionar o surrealismo. Via de regra, esse canadense consegue despertar a inquietude e a estranheza da plateia filmando pesadelos de olhos abertos e buscas inglórias pela satisfação de um desejo incontido, que conduz à autodestruição. É capaz de escolhas surpreendentes, como Robert Pattinson para seu protagonista.

PRINCIPAIS FILMES: Mistérios e paixões (1991), Crash - Estranhos prazeres (1996), Marcas da violência (2005), Senhores do crime (2007), Um método perigoso (2011).

20. Robert Altman (1925-2006)


Pensar em filmes-coral é pensar em Robert Altman. Habilidoso na condução de narrativas em uma penca de personagens desfila pela tela, ele sempre encontrava um meio de achincalhar com hábitos e situações prosaicas, bem como tocar em pontos sensíveis da cultura estadunidense sem perder de vista a dimensão estética. Nas histórias que seus filmes contam, fica claro que a posição de protagonista é muito relativa, já que uma mesma pessoa pode ser a principal e a coadjuvante ao mesmo tempo, a depender da relação que estabelece com outras. Sem preferência explícita por ator algum, recrutou intérpretes das mais varias estirpes para fazer parte de sua vasta galeria e deixa saudade por conta de seu estilo único que jamais entregará outra vez uma obra inédita. No máximo, podemos contar que Paul Thomas Anderson, seu discípulo maior, faça alusões a ele de tempos em tempos.

PRINCIPAIS FILMES: O jogador (1992), Short cuts - Cenas da vida (1993), Prêt-à-porter (1994), Assassinato em Gosford Park (2001), A última noite (2006).

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