BALANÇO MENSAL - AGOSTO

Mês de viagem, como nos dois anos anteriores, agosto teve menos filmes vistos e revistos, mas não quer dizer que não houve ótimos exemplares cinematográficos. Rolou meu terceiro Jia Zhang-ke logo no início do mês, e ele conquistou o primeiro lugar do pódio, deixando o resto dos dias só para decidir a prata e o bronze, que podem ser conhecidos abaixo, assim como os demais títulos com notas e algumas categorias com seus melhores. Seguem abaixo!

PÓDIO

MEDALHA DE OURO

As montanhas se separam (Jia Zhang-ke, 2015)



Concebido como um tríptico em que os diferentes formatos de tela ajudam a delimitar as fases da história, o longa de Zhang-ke é uma potente reflexão sobre amores espargidos no ar e a poluição cada vez mais extrema da nação chinesa. Vale lembrar que até pôr do sol artificial já está sendo oferecido aos cidadãos. Entre passado, presente e futuro, o enredo acompanha dois homens em franca disputa por uma mulher - temática muitas vezes revisitada na ficção - e os descaminhos de cada integrante desse triângulo amoroso, cada vez mais escaleno. As paisagens flagradas pela câmera, uma recorrência em Zhang-ke, são parte fundamental da história, gerando planos embasbacantes. Tal qual outros compatriotas orientais (sobretudo Wong Kar-wai), ele tenta flagrar o tempo, esse signo tão potente, fora do qual parece não existir vida possível. E que belíssima sequência de encerramento...

MEDALHA DE PRATA

Julieta dos espíritos (Federico Fellini, 1965)



Dono de uma imaginação enorme, Fellini encontrou as cores pela primeira vez em Julieta dos espíritos, e ninguém melhor que sua Giulietta da vida real, a Masina, para encarnar essa mulher de alma e espírito dóceis. Nos minutos iniciais, sua câmera reluta em mostrar o rosto da protagonista, que surge iluminado, como alguém que não se abala mesmo diante das circunstâncias de infidelidade do marido. O fluxo imaginativo fica por conta de um guru que é levado por suas irmãs ao seu aniversário de casamento, e então começam a surgir visões de uma espécie de mundo paralelo em meio ao seu cotidiano. Comparado a outros títulos fellinianos, este até que é comportado, afinal, estamos falando do mesmo autor de 8 1/2 (idem, 1963) e Amarcord (idem, 1973). O esplendor do Technicolor é muito bem explorado na fotografia, bem como nos visuais excêntricos de Giuletta, uma baixinha que não se abatia.

MEDALHA DE BRONZE

Sing street (John Carney, 2015)



A poesia de canções originais pontua os fotogramas de Sing street e ratificam uma escolha louvável de John Carney: a de construir uma carreira de realizador formada por longas regidos pelo compasso musical. Assim como em Apenas uma vez e Mesmo se nada der certo, o realizador irlandês desfia uma repertório agridoce, melancólico e apaixonado para flagrar a jornada de um adolescente que encontra força e autoafirmação em uma banda que monta com outros garotos do seu colégio. Ao mesmo tempo, se vê à volta com uma típica paixonite que aumenta seu nível de endorfina, e felizmente o sentimento não parece unilateral. Carney triunfa com a simplicidade de seu olhar sobre crescer, mudar e aprender, verbos que, de alguma maneira, todos nós precisamos conjugar a vida inteira.

LONGAS

INÉDITOS


261. Terra estrangeira (Walter Salles, 1996) -> 8.0

262. As montanhas se separam (Jia Zhang-ke, 2015) -> 9.0
263. Valentin (Alejandro Agresti, 2002) -> 8.0
264. 007 - O espião que me amava (Lewis Gilbert, 1977) -> 6.0
265. Alpes (Yorgos Lanthimos, 2011) -> 6.0


266. Doido para brigar... louco para amar (James Fargo, 1978) -> 7.0
267. Como treinar o seu dragão (Dean DeBlois e Chris Sanders, 2010) -> 6.0
268. Shaun: o carneiro (Mark Burton e Richard Starzack, 2015) -> 8.0
269. Machuca (Andrés Wood, 2004) -> 8.0



270. A corrida do século (Blake Edwards, 1965) -> 7.0
271. Deus branco (Kornél Mundruczó, 2014) -> 9.0
272. Descompensada (Judd Apatow, 2015) -> 6.0
273. Um romance muito perigoso (John Landis, 1985) -> 7.5



274. Sing street (John Carney, 2016) -> 8.0
275. Julieta dos espíritos (Federico Fellini, 1965) -> 8.5
276. oo7 contra o foguete da morte (Lewis Gilbert, 1979) -> 6.0
277. Pulse (Kyioshi Kurosawa, 2001) -> 8.0
278. Os outros caras (Adam McKay, 2010) -> 6.0
279. Dois caras legais (Shane Black, 2016) -> 7.0
280. A noiva cadáver (Tim Burton, 2005) -> 7.5
281. Born to be blue (Robert Budreau, 2015) -> 7.0

REVISTOS

O aviador (Martin Scorsese, 2004) -> 7.0
Onde os fracos não têm vez (Ethan e Joel Coen, 2007) -> 9.0
O eclipse (Michelangelo Antonioni, 1962) -> 9.0

MELHOR FILME: As montanhas se separam
MENÇÃO HONROSA: Deus branco
MELHOR DIRETOR: Federico Fellini, por Julieta dos espíritos
MELHOR ATRIZ: Giulietta Masina, por Julieta dos espíritos
MELHOR ATOR: Fernando Alves Pinto, por Terra estrangeira
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: Fernanda Torres, por Terra estrangeira
MELHOR ATOR COADJUVANTE: John Landis, por Um romance muito perigoso
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL: Jia Zhang-ke, por As montanhas se separam
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO: Blake Edwards, por A corrida do século
MELHOR TRILHA SONORA: Sing street
MELHOR FOTOGRAFIA: As montanhas se separam
MELHOR CENA: A música para os cães em Deus branco
MELHOR FINAL: Deus branco/As montanhas se separam

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