BALANÇO MENSAL - OUTUBRO

Mais um outubro ficou no passado e, entre outras coisas, isso significa a publicação de um novo balanço mensal. Os filmes que passaram diante das minhas retinas entre 1 e 31 de outubro estão devidamente reunidos abaixo, com direito ao já tradicional pódio, um dos mais disputados em muito tempo. O primeiro e o segundo lugar até que foram fáceis de preencher, pois Fritz Lang e Hong Sang-soo fizeram por onde conquistá-los com uma certa folga. A terceira posição é que foi mais pensada, porque não faltaram filmes avaliados com um 8, terceira melhor nota do mês. O posto acabou sendo entregue a Paul Verhoeven e seu longa demolidor, sobre cuja complexidade tento discorrer em algumas linhas. Seguem abaixo os títulos vistos e revistos em um mês composto apenas de longas-metragens.


PÓDIO

MEDALHA DE OURO

Um retrato de mulher (Fritz Lang, 1944)



A linguagem cinematográfica é rica em possibilidades, e Fritz Lang demonstrava total consciência de tal verdade. Envolvendo seu público com uma narrativa sobre um homem cada vez mais encalacrado depois de um crime acidental, ele se apropria de signos do cinema noir para compor um olhar atordoante sobre atos e consequências. Ah... e como os olhos enganam! O poder da imagem é outro ponto crucial em Um retrato de mulher. Quantas vezes somos seduzidos pelo que vemos, criando expectativas sobre alguém e esquecendo que, nem sempre, estamos diante de alguém virtuoso. Um famoso pensador afirmou que costumamos confundir beleza com bondade, e daí vêm problemas demais. 

MEDALHA DE PRATA

Você e os seus (Hong Sang-soo, 2016)



A comédia humana é uma temática recorrente na filmografia de Hong Sang-soo. Recorrente mesmo, já que cada produção sua envolve o assunto com sutis variações entre si. Em Você e os seus, ele flagra a dissolução de um relacionamento causada pelo inconformismo de um homem com a postura mais ousada de sua então parceira. Daí para frente, ele vai se (des/re) encontrar com mulheres de forte semelhança física com ela, mas nunca sendo reconhecido. Não há como não pensar em uma metáfora sobre os relacionamentos amorosos que chegam ao fim e, de repente, já não conseguimos perceber quem é a pessoa com quem estávamos juntos até então. No fundo, conhecemos bem pouco um do outro e até sobre nós mesmos, e essa constatação surge de modo assustadoramente risível aqui.

MEDALHA DE BRONZE

Elle (Paul Verhoeven, 2016)



Isabelle Huppert é a dona absoluta do jogo engendrado por Philippe Dijan, cuja adaptação cinematográfica veio de Paul Verhoeven. Atriz de personalidade forte, ela parece emprestar muito de sua altivez e elegância para Michèle, empresária do ramo de videogames que leva a metáfora do jogo para sua vida pessoal, e reage de modo absolutamente inusitado a um episódio de invasão de domicílio seguido de abuso sexual. O autor dos crimes volta a atacar, mas ela está longe de ser vulnerável, e sabe como mover os peões de um tabuleiro que inclui a melhor amiga, o ex-marido e um amante ocasional. Todos, de alguma forma, comem na sua mão, e o desempenho avassalador de Huppert, somado à direção experiente de Verhoeven, trazem eletricidade e surpresas para a tela.


INÉDITOS

315. Procura insaciável (Miloš Forman, 1971) -> 7.5

316. Assalto ao trem pagador (Roberto Farias, 1962) -> 8.0
317. Os deuses malditos (Luchino Visconti, 1969) -> 8.0
318. Banhos (Zhang Yang, 1999) -> 7.0
319. Kick-ass - Quebrando tudo (Matthew Vaughan, 2010) -> 7.5
320. Curtindo a vida adoidado (John Hughes, 1986) -> 8.0



321. A transfiguração (Michael O'Shea, 2016) -> 6.0
322. Você e os seus (Hong Sang-soo, 2016) -> 8.5
323. 007 contra Octopussy (John Glen, 1983) -> 6.0
324. Loving (Jeff Nichols, 2016) -> 7.0
325. Um fim de semana diferente (Bob Nelson, 2016) -> 7.0
326. Cosmos (Andrzej Zulawski, 2016) -> 6.0
327. Na vertical (Alain Guiraudie, 2016) -> 8.0



328. Rebeldes do deus neon (Tsai Ming-liang, 1993) -> 7.5
329. Vou para casa (Manoel de Oliveira, 2001) -> 7.0
330. Ma ma (Julio Medem. 2015) -> 8.0
331. Um retrato de mulher (Fritz Lang, 1944) -> 9.0
332. Filhas do vento (Joel Zito Araújo, 2004) -> 8.0
333. Pardais (Rúnar Rúnarsson, 2015) -> 8.0




334. Aquário (Andrea Arnold, 2009) -> 8.0
335. Capitão Fantástico (Matt Ross, 2016) -> 7.5
336. O homem que sabia demais (Alfred Hitchcock, 1956)
337. Everybody wants some!! (Richard Linklater, 2016) -> 7.0
338. O estranho mundo de Jack (Henry Selick, 1993) -> 7.0
339. O verão de Sam (Spike Lee, 1999) -> 8.0



340. Elle (Paul Verhoeven, 2016) -> 8.0
341. 007 na mira dos assassinos (John Glen, 1985) -> 6.5
342. Linha de passe (Walter Salles e Daniela Thomas, 2008) -> 8.0
343. Se cuida, Tatiana (Aki Kaurismäki, 1994) -> 8.0
344. Nove rainhas (Fabián Bielinsky, 2000) -> 7.0
345. O inquilino (Roman Polanski, 1976) -> 8.0
346. Reine sobre mim (Mike Binder, 2007) -> 6.0
347. Assim estava escrito (Vincente Minelli, 1952) -> 8.0

REVISTOS

Kill Bill - Volume 2 (Quentin Tarantino, 2004) -> 9.0
Seven - Os sete crimes capitais (David Fincher, 1995) -> 9.0
Cada um com seu cinema (Raymond Depardon, Tsai Ming-liang, Manoel de Oliveira, Atom Egoyan, Aki Kaurismäki, Jane Campion e outros, 2007) -> 7.0
Broadway Danny Rose (Woody Allen, 1984) -> 9.0

MELHOR FILME: Um retrato de mulher
PIOR FILME: Reine sobre mim
MELHOR DIRETOR: Fritz Lang, por Um retrato de mulher/Hong Sang-soo, por Você e os seus
MELHOR ATRIZ: Isabelle Huppert, por Elle/ Penélope Cruz, por Ma ma
MELHOR ATOR: Clive Owen, por Um fim de semana diferente
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: Gloria Grahame, por Assim estava escrito
MELHOR ATOR COADJUVANTE: Michael Fassbender, por Aquário
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL: Hong Sang-soo, por Você e os seus
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO: David Birke e Harold Manning, por Elle
MELHOR TRILHA SONORA: Terence Blanchard, por O verão de Sam
MELHOR FOTOGRAFIA: Sven Nykvist, por O inquilino
MELHOR CENA: Ferris cantando na rua em Curtindo a vida adoidado
MELHOR FINAL: O verão de Sam

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