BALANÇO MENSAL - JULHO

Está chegando mais uma leva de longas-metragens vistos e revistos ao longo de mais um mês do ano. O balanço de agosto reúne vários títulos, todos provenientes dos Estados Unidos, e a medalha de ouro foi entregue a um novo James Gray, que me arrancou um 9, nota que anda tão rara quanto o 10. Sigo à procura de um filme merecedor dessa avaliação máxima - desde setembro de 2016, com Aquarius, não tem acontecido. Notas à parte, os leitores vão encontrar muita coisa boa distribuída nas próximas linhas. Prevalecem os dramas, como de hábito, mas houve espaço para uma comédia bem gostosa no pódio, tendo Warren Beatty, uma figura que vem se tornando frequente nas minhas escolhas deste ano, como ator principal. Fechando o trio de melhores, um certo carpinteiro alçando um automóvel de motor fatal à condição de protagonista. E lá vêm eles!


MEDALHA DE OURO

Z - A cidade perdida (James Gray, 2016)




Este que vos escreve sentiu receio quando soube da premissa do sexto filme de James Gray: um homem obstinado por encontrar uma civilização perdida se embrenha na Amazônia por causa dessa procura. Resumidamente, é sobre esse pilar que se apoia Z - A cidade perdida (The lost city of Z, 2016), exibido no Festival de Berlim. Por que o receio? Não é exatamente a temática que se espera de um diretor de seu calibre, mais afeito a retratos urbanos pintados com certo intimismo, especialmente sua obra-prima, Amantes (Two lovers, 2008). O filme em análise está mais para um Werner Herzog, realizador de Aguirre, a cólera dos deuses (Der Zorn Gottes, 1972) e Fitzcarraldo (idem, 1972), cujos enredos se desdobram em aventuras megalomaníacas. Os pés atrás, contudo, ficaram no passado logo nos primeiros minutos de sessão de mais um Gray, que demonstra manter um elo coesivo com sua obra pregressa, e são detalhes aqui e e ali a sedimentar essa observação. [crítica completa]


MEDALHA DE PRATA

O céu pode esperar (Warren Beatty e Buck Henry, 1978)



Não é das comédias que mais me arrancou risos, mas me despertou um carinho tão grande pelos personagens principais que logo foi me conquistando. Com Warren Beatty na direção, no roteiro e no papel de protagonista, o longa setentista parte de um argumento insólito: um jogador de futebol americano é levado ao céu prematuramente e, quando se confirma seu direito de passar mais uns anos na Terra, seu corpo já foi cremado. Resta então encarnar em outro corpo, e o escolhido é um milionário ganancioso que já estava para ser liquidado em um plano maligno de sua esposa, mancomunada com o suposto braço direito dele. Movido por um senso de justiça, o atleta procura fazer o bem sob a carcaça do tal milionário, ao mesmo tempo em que se empenha para atuar no Super Bowl, no qual jogaria se não tivesse quase morrido antes. Estão garantidos momentos de humor genuíno, como as tentativas frustradas de assassinato da dupla de trambiqueiros e a surpresa geral diante da ideia de um homem que nada tinha a ver com esporte querer competir em pé de igualdade com os demais integrantes do time. E o que dizer da química absurda de Beatty e Julie Christie, também parceiros na vida real? 


MEDALHA DE BRONZE

Christine - O carro assassino (John Carpenter, 1983)



Dizer que o motor de Christine é envenenado está longe de ser mera força de expressão. Quem cruza o caminho dessa máquina pode experimentar seus últimos instantes de vida, e a quem ousar duvidar, o castigo vem em um motor de muitos cavalos. O ocupante do terceiro lugar do pódio de agosto é outro exemplar de premissa inusitada que funciona em várias frentes, sobretudo no roteiro e na trilha sonora, bem casada com as sequências em que o eletrizante e o assustador se conjugam. Carpenter manja do riscado e, como carpinteiro - tradução de seu sobrenome, afinal -, faz de sua arte um veículo (opa, escapuliu um trocadilho!) para emoções vivazes. Aliás, Christine é um carro bem sentimental, e é justamente por conta de seus sentimentos (especialmente o ciúme) que ele arranca com tudo para cima de quem desafiá-los. Ainda sobre a trilha, ela é um misto de horror e ironia bem pensados por uma mente criativa. 

INÉDITOS



224. A senhora da van (Nicholas Hytner, 2015) -> 6.0
225. De menor (Caru Alves de Souza, 2013) -> 6.5
226. A lei da noite (Ben Affleck, 2016) -> 6.5
227. Christine - O carro assassino (John Carpenter, 1983) -> 8.0
228. Da colina Kokuriko (Goro Miyzaki, 2011) -> 7.5
229. Entrando numa fria (Jay Roach, 2000) -> 6.0



230. Okja (Joon Bong-hoo, 2016) -> 7.5
231. As crônicas de Nárnia - O leão, a feiticeira e o guarda-roupa (Andrew Adamson, 2005) -> 8.0
232. Traffic (Steven Soderbergh, 2000) -> 5.0
233. Z - A cidade perdida (James Gray, 2016) -> 9.0
234. Saneamento básico, o filme (Jorge Furtado, 2007) -> 8.0
235. Maria Antonieta (Sofia Coppola, 2006) -> 8.0
236. Procura-se um amigo para o fim do mundo (Lorene Scarfaria, 2012) -> 4.0



237. Eleição (Alexander Payne, 1999) -> 7.0
238. Quando meus pais não estão em casa (Anthony Chen, 2013) -> 7.5
239. Missão impossível - Nação secreta (Christopher McQuarrie, 2015) -> 8.0
240. Negócio das Arábias (Tom Tykwer, 2016) -> 6.0 
241. São Bernardo (Leon Hirszman, 1971) -> 8.0
242. História de melancolia e tristeza (Seijun Suzuki, 1977) -> 8.0
243. Crônica de uma fuga (Israel Adrián Caetano, 2006) -> 7.0



244. Sangue do meu sangue (Marco Bellocchio, 2015) -> 7.5
245. Sangue pela glória (Ben Younger, 2016) -> 6.0
246. Mate-me por favor (Anita Rocha da Silveira, 2015) -> 5.0
247. Herói por acidente (Stephen Frears, 1992) -> 5.0
248. Fim dos tempos (M. Night Shyamalan, 2008) -> 1.0
249. Um condenado à morte escapou (Robert Bresson, 1956) -> 7.0
250. Cliente morto não paga (Carl Reiner, 1982) -> 7.0



251. O céu pode esperar (Warren Beatty e Buck Henry, 1978) -> 7.0
252. Gattaca - A experiência genética (Andrew Niccol, 1997) -> 7.0
253. Manila nas garras de neon (Lino Brocka, 1975) -> 8.0
254. O portal do paraíso (Michael Cimino, 1980) -> 8.0
255. Família do bagulho (Rawson Marshall Thurber, 2013) -> 6.5
256. Veloce com il vento (Matteo Rovere, 2016) -> 7.0
257. Uma segunda chance (Mike Nichols, 1991) -> 7.0
258. Agente 117 - Uma aventura no Cairo (Michel Hazanavicius, 2006) -> 6.0

REVISTOS

Abraços partidos (Pedro Almodóvar, 2009) -> 8.5
Agora ou nunca (Mike Leigh, 2002) -> 8.0
De volta para o futuro 2 (Robert Zemeckis, 1989) -> 10.0
Desejo e perigo (Ang Lee, 2007) -> 8.0
Wall - E (Andrew Stanton, 2008) -> 8.0


MELHOR FILME: Z - A cidade perdida
PIOR FILME: Fim dos tempos
MELHOR DIRETOR: James Gray, por Z - A cidade perdida
MELHOR ATRIZ: Isabelle Huppert, por O portal do paraíso 
MELHOR ATOR: Charlie Hunnan, por Z - A cidade perdida / Warren Beatty, por O céu pode esperar
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: Tilda Swinton, por Okja / Camila Pitanga, por Saneamento básico, o filme
MELHOR ATOR COADJUVANTE: Robert Pattinson, por Z - A cidade perdida
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL: Jorge Furtado, por Saneamento básico, o filme
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO: James Gray, por Z - A cidade perdida
MELHOR TRILHA SONORA: John Carpenter, por Christine - O carro assassino
MELHOR FOTOGRAFIA: Darius Khondji, por Z - A cidade perdida
MELHOR CENA: A viagem de pai e filho em Z - A cidade perdida
MELHOR FINAL: Z - A cidade perdida

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