BALANÇO MENSAL - NOVEMBRO

Parece que novembro teve apenas  15 dias, tamanha a rapidez com que passou. O mês do meu aniversário é também meu preferido, e gostaria de que ele se estendesse um pouco mais... Em se tratando de filmes, o ritmo continuou intenso, mas ando numa maré de títulos fracos que, por vezes, desanima. Por onde andam os filmes dignos de um 9 ou um 10? Talvez também conte o fato de eu estar decidindo algumas sessões em cima da hora, flexibilizando demais meus critérios e, com isso, venho entrando em contato com produções de gosto altamente duvidoso, que não tinham realmente como trazer um bom resultado. Seja como for, alguns nomes conhecidos fizeram o mês um pouco menos fraco, tais como François Ozon, King Vidor, Leon Hirszman e Jacques Demy


MEDALHA DE OURO

A turba (King Vidor, 1928)


É bom não confundir a turba do título com o instrumento musical, este sem a letra r no nome. Hoje uma palavra fora de moda, turba designa multidões, característica das grandes cidades, cada vez mais inchadas de pessoas acreditando que vão fazer a vida tirando a sorte grande na selva cimentada. Não é bem o que acontece com a maioria, e nosso protagonista John Sims (James Murray), nascido em 4 de julho de 1900, é um desses para quem a vida não sorri com frequência. Toda sua história é contada com os poucos recursos disponíveis na época, mas que não comprometem em nada a qualidade da obra, pertencente à era do cinema mudo. Vidor construiu um épico sobre a voracidade urbana, que engole seus habitantes sem piedade, e cada um se vire como pode nessa eterna disputa pelo seu quinhão. O roteiro nos faz testemunhas de seu amor, sua luta profissional cheia de reveses e as dificuldades na criação do filho. Um homem como outro qualquer e, mesmo assim, extraordinário.

MEDALHA DE PRATA

A falecida (Leon Hirszman, 1965)


Cronista da infidelidade e da insatisfação, Nelson Rodrigues focalizou o segundo tema ao escrever A falecida, cuja versão cinematográfica assinalou a estreia de ninguém menos do que Fernanda Montenegro nas telas. Idêntica à filha na época, ela encarna Zulmira, mulher que decide se despedir da vida e quer deixar tudo esquematizado para um velório e um sepultamento cheio de pompa e circunstância. Mesmo que para isso precise desencavar um passado recente que não depõe em nada a seu favor, e é quando o primeiro dos temas caros a Rodrigues emerge durante a narrativa. A adaptação de Hirszman é bem-sucedida ao capturar a melancolia de um tempo em que o Brasil começava a respirar ares ditatoriais e o milagre econômico era encontrado apenas nos discursos políticos. A emblemática cena da chuva, quando Zulmira tem seu real instante de liberdade e leveza, segue como uma lembrança de que a simplicidade também é artigo raro no cotidiano sofrido de muitos brasileiros.

MEDALHA DE BRONZE

Estocolmo (Rodrigo Sorogoyen, 2013)



Pertencente ao grupo de filmes cujas narrativas transcorrem em apenas algumas horas, Estocolmo se reveza entre o ensaio de romance de sua primeira parte e o suspense psicológico que toma conta da segunda metade. A premissa é muito simples: um homem insiste em passar a noite com uma jovem que conheceu em uma festa à qual foi a convite de um amigo. Depois da resistência inicial dela ao envolvimento de uma madrugada, o espectador é surpreendido pela mudança de atitude de um deles, deflagrando momentos de tensão e moldando o que parece um jogo de provocação. Talentosamente dirigido, o longa abre espaço para discutir medo e solidão nos dias de hoje, e o faz sem negligenciar a dimensão do entretenimento, equilíbrio nada fácil de se alcançar.

INÉDITOS

359. O outro lado (Roberto Minervini, 2015) -> 7.0
360. O amante duplo (François Ozon, 2017) -> 7.5
361. A turba (King Vidor, 1928) -> 8.0
362. Todos os outros (Maren Ade, 2009) -> 7.0
363. Tango & Cash: os vingadores (Albert Magnoli e Andrey Konchalovskiy, 1989) -> 5.0
364. Estocolmo (Rodrigo Sorogoyen, 2013) -> 8.0
365. Vermelho russo (Charly Braun, 2016) -> 7.5


366. Mais forte que o mundo (Afonso Poyart, 2016) -> 6.0
367. Du forsvinder (Peter Schønau Fog, 2017) -> 6.0
368. Síndrome da China (James Bridges, 1979) -> 6.0
369. Hector e a procura da felicidade (Peter Chelsom, 2014) -> 6.0
370. Terra selvagem (Taylor Sheridan, 2017) -> 7.0
371. Suíte francesa (Saul Dibb, 2014) -> 7.0



372. Bom comportamento (Benny e Josh Safdie, 2017) -> 7.5
373. Horas decisivas (Craig Gillespie, 2016) -> 4.0
374. Jack Reacher: o último tiro (Christopher McQuarrie, 2012) -> 6.0
375. Seis dias, sete noites (Ivan Reitman, 1998) -> 5.0
376. Dupla explosiva (Patrick Hughes, 2017) -> 5.0



377. A falecida (Leon Hirszman, 1965) -> 8.0
378. O segredo íntimo de Lola (Jacques Demy, 1969) -> 7.5
379. Aos teus olhos (Carolina Jabor, 2017) -> 7.0
380. Excursão escolar (Henner Winckler, 2002) -> 5.0
381. Encalhados (Lynn Shelton, 2014) -> 5.0
382. How to talk to girls at parties (John Cameron Mitchell, 2017) -> 4.0



383. Roubo em família (Steven Soderbergh, 2017) -> 5.0
384. Nocturama (Bertrand Bonello, 2016) -> 8.0
385. Be cool - O outro nome do jogo (F. Gary Gray, 2005) -> 5.0
386. Fala comigo (Felipe Sholl, 2016) -> 4.0
387. Bridget Jones - No limite da razão (Beeban Kidron, 2004) -> 6.5
388. Respirar (Karl Markovics, 2011) -> 7.0


389. As coisas da vida (Claude Sautet, 1970) -> 6.0
390. O franco atirador (Pierre Morel, 2015) -> 7.0
391. High hopes (Mike Leigh, 1988) -> 7.0
392. Videodrome - A síndrome do vídeo (David Cronenberg, 1983) -> 6.0
393. Irmãos de sangue (Spike Lee, 1995) -> 7.5

REVISTOS

Incêndios (Denis Villeneuve, 2010) -> 8.0
A lenda do cavaleiro sem cabeça (Tim Burton, 1999) -> 8.0
Moonrise kingdom (Wes Anderson, 2012) -> 7.5
Brilho eterno de uma mente sem lembranças (Michel Gondry, 2004) -> 10.0


MELHOR FILME: A turba
MELHOR DIRETOR: King Vidor, por A turba
MELHOR ATRIZ: Fernanda Montenegro, por A falecida
MELHOR ATOR: Jérémie Renier, por O amante duplo
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: Kristin Scott Thomas, por Suíte francesa
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL: Isabel Peña e Rodrigo Sorogoyen, por Estocolmo
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO: Eduardo Coutinho e Leon Hirszman, por A falecida
MELHOR TRILHA SONORA: Daniel Lopatin, por Bom comportamento
MELHOR FOTOGRAFIA: Manuel Dacosse, por O amante duplo
MELHOR CENA: O banho de chuva de Zulmira em A falecida
MELHOR FINAL: Estocolmo

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