BALANÇO MENSAL - FEVEREIRO

O mês mais curto do ano também é cheio de filmes! Faz quase seis anos que venho mantendo o ritmo de um filme por dia, com raras interrupções nessa jornada e alguns dias de dobradinhas e até mesmo trios. A flexibilidade dos meus horários ajuda bastante, além de poder ver os filmes no celular - a menos ideal das telas, é verdade - para cima e para baixo pela cidade. Os eleitos desse mês para o pódio são todos dramas estadunidenses, dois deles super recentes, situação que nunca é planejada. Admito que prefiro a variedade total de épocas, nacionalidades e gêneros, mas também não posso fingir que não gostei mais de certos filmes simplesmente em nome de uma suposta diversidade nesses aspectos, então seguem os meus mais queridos acompanhados de breves comentários e a lista completa dos longas vistos e revistos em fevereiro.

PÓDIO

MEDALHA DE OURO

Três anúncios para um crime (Martin McDonagh, 2017)



Com uma personagem escrita sob medida para ela, Frances McDormand deita e rola em Três anúncios para um crime (Three billboards outside Ebbing, Missouri, 2017), sua primeira parceria com o realizador Martin McDonagh. Os tais anúncios do título, localizados em uma estrada de raras passagens de veículos, denunciam a lentidão da polícia local em descobrir e capturar os responsáveis pelo estupro seguido de assassinato da filha de Mildred (McDormand), bem como manifestam o desejo de ver o cumprimento da lei como uma espécie de alívio parcial de uma dor profunda. Casando drama e humor negro em momentos inesperados, o roteiro do próprio diretor joga na tela discussões importantes, como os limites e a validade da justiça com as próprias mãos - nos atos, por vezes, extremos de Mildred e a persistência do racismo nos dias atuais, demonstrando que o cidade parou no tempo nesse quesito. O elenco afiado está à vontade em cena e McDormand volta a chamar a atenção para a atriz maravilhosa que sempre foi - a essa altura, já devidamente premiada pelo filme com Globo de Ouro, SAG e Bafta.

MEDALHA DE PRATA

A melhor escolha (Richard Linklater, 2017)



O tempo é o grande foco de Linklater a cada filme. De uma forma ou de outra, essa convenção fora da qual parece não existir vida comparece quase como personagem nas suas histórias. Depois do extraordinariamente simples Boyhood (idem, 2014), era alta a expectativa por mais um trabalho excepcional. Por mais que não alcance o nível do que tinha feito antes, A melhor escolha também é um filme de grandes momentos, cuja ação é desencadeada quando um veterano de guerra encontra dois companheiros daquele tempo - graças à internet, onde se acha todo mundo, ele conta. Aqueles três homens que conviveram por um período relativamente curto e estiveram separados por décadas voltam ao contato para o sepultamento do filho do primeiro, e tais personagens são defendidos por um trio ao qual não falta talento: o subestimado Carrel é o pai em luto, enquanto Laurence Fishburne e Bryan Cranston vivem um reverendo que deixou o passado de excessos e um dono de bar sem a menor fé em Deus, respectivamente - situação que é explorada pelo roteiro. No fim das contas, Linklater entrega mais um filme em que a viagem importa mais do que a chegada, e o tempo mostra seus efeitos sobre corpos e mentes, até seu final honesto e bem palpável.

MEDALHA DE BRONZE

Rio violento (Elia Kazan, 1960)



Se tem uma palavra-chave para o cinema empreendido por Elia Kazan, ela é desencanto. Seus personagens enfrentam situações em que o sentimento emerge ou já aparece de cara, e com Rio violento (Wild river, 1960) não é diferente. O mote da narrativa é a necessidade de convencer a única família que resta em uma ilha que está muito perto de ser tomada pelas águas. Muitos funcionários do governo já estiveram ali argumentando sobre a importância de se retirar o quanto antes, mas os habitantes se apegam à história que construíram ali, sobretudo a matriarca, intransigente quanto à proposta de viver em outro lugar. Então surge Chuck Glover (Montgomery Clift, especialista em sujeitos tristes), que não se dá por vencido e embarca numa causa que se mostra perdida a cada nova tentativa. O que seria apenas um trabalho como outro qualquer acaba se transformando em um recomeço para o seu coração, mas em se tratando de um cinema desencantado, até que ponto? Alívio parece uma realidade distante demais para aqueles tipos, extraídos do romance de William Bradford Huie e Borden Deal.

INÉDITOS

46. Moby Dick (John Huston, 1956) -> 7.0

47. Perdidos em Paris (Fiona Gordon e Dominique Abel, 2015) -> 7.0
48. Coincidências do amor (Josh Gordon e Will Speck, 2010) -> 5.0
49. Meu melhor companheiro (Robert Stevenson, 1957) -> 8.0
50. Feito na América (Doug Liman, 2017) -> 6.5
51. A forma da água (Guillermo Del Toro, 2017) -> 8.5
52. Fome de poder (John Lee Hancock, 2016) -> 7.0


53. Pai em dose dupla (Sean Anders, 2015) -> 5.0
54. Neve negra (Martín Hodara, 2017) -> 5.5
55. Suburbicon (George Clooney, 2017) -> 6.0
56. O ataque da mulher de 15 metros (Nathan Juran, 1958) -> 6.5
57. A mulher do lado (François Truffaut, 1981) -> 7.0
58. Redemoinho (José Luiz Villamarim, 2016) -> 7.0



59. As duas Irenes (Fabio Meira, 2017) -> 7.0

60. De volta para casa (Hallie Meyers-Shyer, 2017) -> 7.0
61. Brigada 49 (Jay Russell, 2004) -> 7.0
62. Viagem ao centro da Terra (Henry Levin, 1959) -> 6.5
63. O guia do mochileiro das galáxias (Garth Jennings, 2005) -> 4.0
64. Lion - Uma jornada para casa (Garth Davis, 2016) -> 6.0
65. A hora do rush 2 (Brett Ratner, 2001) -> 6.0


66. Lady Bird - A hora de voar (Greta Gerwig, 2017) -> 7.0
67. Rio violento (Elia Kazan, 1960) -> 8.0
68. Roman J. Israel, Esq. (Dan Gilroy, 2017) -> 7.0
69. O grande truque (Christopher Nolan, 2006) -> 7.0
70. Homem de Ferro (Jon Favreau, 2008) -> 6.0
71. O amor é um crime perfeito (Jean-Marie e Arnaud Larrieu, 2013) -> 5.0
72. O terror das mulheres (Jerry Lewis, 1961) -> 8.0


73. O formidável (Michel Hazanavicius, 2017) -> 7.5
74. Me chame pelo seu nome (Luca Guadagnino, 2017) -> 8.0
75. A melhor escolha (Richard Linklater, 2017) -> 8.5
76. Pantera Negra (Ryan Coogler, 2017) -> 7.5
77. Atraídos pelo crime (Antoine Fuqua, 2009) -> 5.0
78. Os Meyerowitz - Família não se escolhe (Noah Baumbach, 2017) -> 6.0


79. Hatari! (Howard Hawks, 1962) -> 7.5
80. O turista acidental (Lawrence Kasdan, 1988) -> 6.0
81. Três anúncios para um crime (Martin McDonagh, 2017) -> 9.0
82. A vingança do ator (Kon Ichikawa, 1963) -> 7.0
83. O procurado (Timur Bekmambetov, 2008) -> 6.5
84. Pendular (Julia Murat, 2017) -> 7.0
85. Sede de viver (Vincente Minelli, 1956) -> 7.0

REVISTOS

Grandes esperanças (Alfonso Cuarón, 1998) -> 8.0
Lilo e Stitch (Chris Sanders e Dan DeBlois, 2002) -> 7.5
Sideways - Entre umas e outras (Alexander Payne, 2004) -> 8.0
Memórias (Woody Allen, 1980) -> 8.0

MELHOR FILME: Três anúncios para um crime
MELHOR DIRETOR: Martin McDonagh, por Três anúncios para um crime
MELHOR ATRIZ: Frances McDormand, por Três anúncios para um crime
MELHOR ATOR: Denzel Washington, por Roman Israel, Esq.
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: Laurie Metcalf, por Lady Bird - A hora de voar
MELHOR ATOR COADJUVANTE: Sam Rockwell, por Três anúncios para um crime
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL: Três anúncios para um crime, por Martin McDonagh
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO: Rio violento, por Paul Osborn
MELHOR TRILHA SONORA: A forma da água
MELHOR FOTOGRAFIA: Me chame pelo seu nome
MELHOR CENA: O diálogo final de Mildred e Dixon em Três anúncios para um crime
MELHOR FINAL: A forma da água

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